quinta-feira, 29 de novembro de 2007

APARELHO PERMITE AO CEGO PERCEBER FORMAS TRIDIMENSIONAIS


Na Espanha, uma novidade enche de esperança as pessoas que não enxergam. É um dispositivo capaz de gerar sinais acústicos e captar informação tridimensional a partir de imagens digitalizadas. Candelária nasceu na ilha de Lagomira, no arquipélago das Ilhas Canárias. Vinda de uma família de pescadores, ela sempre viveu perto do mar, embalada pelo barulho das ondas. Aos 16 anos, Candelária perdeu a visão e desde então conta com a ajuda de uma bengala para movimentar-se pela cidade. Há cinco anos, ela passou a fazer parte de um grande projeto que oferece aos cegos o sistema de visão virtual. Aqui, ela percebe duas colunas de som. Candelária diz que ouve o som exatamente onde está a imagem, ou seja, em vez de ser uma imagem visual, é uma imagem sonora. Ela recebe os sons em equipamento especial. Através dele, o sinal acústico chega ao cérebro que o interpreta como se fossem centelhas de luz. Então, virtualmente, ela percebe os objetos de forma tridimensional.O sistema é bastante complexo e tem explicação no 'Espaço Acústico Visual', um projeto em desenvolvimento pelo Instituto Astrofísico das Ilhas Canárias. O diretor, Luis Fernando Rodriguez, fala que primeiro escolhe um som. Depois, ele é colocado em locais onde estão os objetos, de forma virtual. Isso se faz utilizando técnicas de processamento de sinais. O desenvolvimento do protótipo se baseia na investigação científica do cérebro.Com a ajuda de exames de ressonâncias magnéticas chegou-se à conclusão que o córtex visual das pessoas cegas se ativa ao receber sinais acústicos. O pesquisador José Luis Gonzalez explica que a pessoa recebe uma informação sonora do tipo espacial. O cérebro então interpreta cada um dos pontos sonoros que compõem o cenário exterior. Isso tudo é feito usando uma ferramenta informática chamada função HRTF.Quando Candelaria coloca esses óculos que possuem duas microcâmeras de vídeo e fones de ouvidos, não vê os objetos fisicamente. Mas percebe onde estão e qual o volume deles. Ela percebe uma parede... Uma janela... E uma quina... O especialista explica que o sistema usa um Pentium 300 e uma placa Matrox, além de duas câmeras de vídeo que capturam duas imagens. Assim, da mesma forma que o cérebro, é possível calcular a distância em que o objeto está. Uma técnica que se chama 'Estéreo Visão'. O sistema oferece variadas possibilidades e já ampliaram seu uso para videogames para cegos e estão adaptando-o para outros tipos de deficiência, como surdez. Diferente da experiente Candelária, Guilhermina González percebe pela primeira vez objetos tão comuns como uma coluna. Ela fica bastante emocionada e quer tocar o objeto. Os técnicos fazem um estudo detalhado com todos os usuários para adaptar o sistema à capacidade visual e auditiva de cada um. Depois, cria-se um perfil personalizado. Guilhermina diz que o resultado compensa tudo... até a armação pesada que precisa vestir. Os avanços da ciência até agora não permitem que Guilhermina ou Candelária vejam o pôr do sol. Mas, sem dúvida, tornam a vida delas bem mais simples.

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